quarta-feira, 26 de agosto de 2009

CULTURA MATERIAL E ENSINO DE HISTÓRIA: OBJETOS ANTIGOS EM BITURUNA.


CULTURA MATERIAL: OBJETOS COMO FONTE HISTÓRICA.

Com o interesse na análise de objetos antigos em diferentes temporalidades, ou melhor, objetos ou acessórios utilizados no período de 1920 a 1954, na até então, Colônia Santa Bárbara, buscamos perceber sua representatividade na atualidade, no hoje denominado município de Bituruna. Queremos compreender como a cultura material, como fonte e método em diferentes temporalidades, podem nos auxiliar nesse contexto.
Pesez (1995) nos aproxima deste estudo, nos inserindo na História da Cultura Material. Aponta que foi em 1919 que se instituiu a Academia de História da Cultura Material, na URSS, a qual buscava uma noção para esse termo. Sabe-se que a cultura material está entrelaçada a História e também a arqueologia, tendo a ultima mostrado maior interesse no tema. Porém nem historiadores e nem os arqueólogos deram uma definição total para o termo em questão, admitem apenas que o próprio termo pode definir a Cultura Material. Pesez (1995, p.180), mesmo nos fala que: “A noção de cultura material não tem valor em si; só o tem se se revelar útil”.
O autor ainda nos revela uma relação entre o homem e os objetos, pois ambos estão ligados à cultura. Também nos mostra que a História não teve a intenção de ignorar a Cultura Material, apenas limitou seu interesse, percebeu-se que desde o século XIX, a História foi responsável por mudanças que ocorreram neste meio. Havia materiais bibliográficos que abordavam o assunto, porém em pouca quantidade, também não teve a divulgação que merecia. Para alguns, como nos diz Pesez (1995, p. 182) “a cultura material era relegada, então, à prateleira das curiosidades do bazar histórico: era abandonada aos eruditos de província e aos amadores sem ambição”. Percebe-se a partir de então que a cultura material não estava recebendo o valor que merecia, onde poucos mostravam interesse por ela, ou não tinham acesso à mesma.
No entanto, a Escola dos Annales, como nos apresenta o autor acima mencionado, aumentou o domínio do historiador, colocando-o a par da cultura material. Historiadores como Marc Bloch, Lucien Febvre e Fernand Braudel destacam-se nessa conquista, sendo o último, o autor de “Civilização e capitalismo”, a primeira grande obra tratando da história da cultura material, onde mostra que o estudo desta, não se separa do estudo do capitalismo, mesmo que ambos são entrelaçados e ao mesmo tempo distintos. Afirma ser importante estuda-la tendo em vista que sua história ainda não se completou.
Ainda Pesez (1995), aponta que as técnicas que o homem usa para agir aparentemente estão presas a cultura material. No entanto as técnicas são apenas mais um componente. Foi através do interesse por esse assunto que se notou o aumento da bibliografia sobre a mesma, também a melhora de conteúdos foi visível. Contudo ainda não foi construída uma história da cultura material como se esperava.
Os arqueólogos parecem estar em primeiro plano nesse estudo, e acabam definindo a cultura material sendo a ciência dos artefatos. Já Gasiorowski, citado por Pesez (1995, p. 202), a definia como “conjunto dos grupos de atividades humanas que correspondem a uma finalidade consciente e possuem um caráter utilitário realizado em objetos materiais”. Então os objetos e fontes materiais são mais relevantes, tendo em vista que as fontes escritas eliminam-se mais facilmente. Aí está à relação da arqueologia com a cultura material, pois ambas representam-se por objetos.
O mesmo autor (1995, p.209) também admite que a pesquisa da história da cultura material não está madura e diz que: ”Para ser verdadeiramente cientifica, a história da cultura material deveria, sem dúvida, chegar a certo nível de abstração, deveria ser capaz de individuar as coerências que estruturam uma cultura”. Tem consciência de que talvez a missão da cultura material é descobrir as relações sociais e econômicas das sociedades do passado, ou ainda explicar as mudanças socioeconômicas. Pretende colocar o homem em primeiro plano na História, pois Pesez (1995, p.211) ainda define: ”E já que ela é a história dos grandes números e da maioria dos homens, é em primeiro lugar o explorado que ela coloca em primeiro plano”.
Funari (1992/1993) tenta impor a cultura material em nosso cotidiano, nos diz que algumas instituições, como escolas, museus, entre outros, se opõem ao estudo da cultura material. Mesmo assim percebe-se que o estudo dessa, está inter-relacionado à educação, tornando-se, como nos aponta Mackenzie, citado por Funari(1992/1993, p.19), numa importante ferramenta para a criação de consciência. Este autor juntamente com Stone, acredita que a cultura material auxilia o ensino de disciplinas relacionadas ao mundo social. Mesmo com uma suposta rejeição de inicio, professores e pedagogos usam fatos do dia a dia do aluno para auxiliar a aprendizagem. Giddens e Carvalho, mencionados por Funari (1992/1993, p. 24), concordam que “O estudo do corriqueiro, a vida material diária do passado e do presente, tem permitido entender relações sociais e históricas”.
Chagas, em Lemos (2000, p. 35) deixa visível que “[...] coisas insignificantes podem ter significado (...) um significado atribuído e cambiável (...) o significado (e o valor) dessas coisas não está nelas mesmas, mas na relação que com elas se pode manter”.


O HISTORIADOR E O USO DE FONTES HISTÓRICAS EM DIFERENTES TEMPORALIDADES

Para Santos (2001), não basta ao historiador o rigor do método e técnicas, que são cada vez menos independentes, bem como o crédito das fontes, importa também em buscar no passado a indagação pela atualidade. Por meio dessa fala percebemos o verdadeiro sentido em ser historiador, que é compreender os fatos humanos em suas temporalidades, e ainda relacionar os mesmos em diferentes períodos.
Ao falarmos de passado citamos Hobsbawn (1998), pois para ele todo ser humano define o passado como sendo o período que antecipa os fatos registrados em nossa memória, e entende que todos sabem que há um passado, o problema está em revelar e compreender o sentido desse passado. Ainda para Hosbsbawn:

Em história, na maioria das vezes, lidamos com sociedades e comunidades para as quais o passado é essencialmente o padrão para o presente [...] Claro que uma denominação total do passado excluiria todas as mudanças e inovações legitimas. (HOBSBAWN, 1998, p.22-23)

No entanto, esclarece o autor, essas inovações podem apresentar-se como retorno de alguma parte do passado, ocorrendo isso quando a sociedade é atingida por mudanças, com essas o passado deixa de ser exemplo e se transforma, assim, tentar reconstruir o passado completamente, é impossível.
Observamos que ao tentarmos fazer uma reconstrução do passado nos deparamos com muitos empecilhos que interferem em um resultado satisfatório, porque se torna complexa uma investigação histórica do passado, sabendo que podem ser raras ou até inexistentes as fontes necessárias para tal estudo. Muitas vezes achamos que obras bibliográficas podem servir de embasamento a nossa pesquisa, no entanto não percebemos que nela pode estar contida a visão de apenas um indivíduo e que talvez não se apresente tão confiável quanto pareça ser. Ai entra a importância da atitude do pesquisador, na busca de outras fontes para uma análise mais objetiva e coerente.
Marc Bloch, citado por Mattos (2003) nos mostra que o conhecimento histórico é um prazer, o prazer do conhecimento do outro, a curiosidade de conhecer situações em que ele viveu, o que leu, sentiu, como sobreviveu, morreu e toda a trajetória percorrida por ele. Esse conhecimento de si e do outro, encontramos no passado, pois todos têm história. Na fala de Eric Wolf, mencionado por Hobsbawn (1998), percebemos que não existe povo sem história ou que se compreenda sem ela, assim como a história e as ciências sociais precisam de uma história que explicasse sua existência. Todo indivíduo precisa de um passado, revelado ocasionalmente pela pesquisa histórica. Porém Priori, (1994) no indica que ao iniciar a pesquisa, o historiador deve primeiramente localizar as fontes, organizá-las para depois pesquisá-las, e deve ainda trabalhar com a maior objetividade possível, articular a forma de ler as fontes, entendendo as transformações históricas como um processo, ver nas pequenas descobertas, mudanças profundas..
A História está sempre se modificando e essas alterações são parciais. Percebemos em Búry, citado por Carr (1978), que os registros da História estão repletos de lacunas, ou seja, a História é incompleta, e é nosso dever tentar compreendê-la preenchendo este vazio. Baseando-se nessas lacunas, cada historiador visa imprimir sua visão histórica. Porém mesmo assim deve analisar precisamente os fatos históricos e suas alterações, deve principalmente não acreditar em tudo que lhe é apresentado. Como exemplo, mencionamos os documentos que não podem nos dizer mais do que aquilo que o autor pensava e havia descoberto, aí está a função do historiador comprometido, ir além, buscar novas fontes, novas formas de entender o ocorrido.
Ainda Carr (1978), nos aponta que devemos levar a História sempre além, buscar saber mais do que pensamos conhecer, pois as fontes nem sempre nos relatam o que aconteceu, apenas expõem o que pensam ter ocorrido, os fatos nunca chegam a nós puros, então é viável nos esforçarmos para interpretá-las e compreendê-las de forma mais adequada. O debate das fontes ultrapassa gerações, e as diversas temporalidades mostram a maneira adequada de estudá-las e questioná-las sobre a confiabilidade das mesmas. Samuel (1989, 1990) nos fala que as fontes são infinitamente variadas, no entanto não são tão ilimitadas, para que o historiador se prenda somente nelas. Por exemplo, ao se tratar de documentos, uma dificuldade está em sua natureza, que varia muito pouco de lugar a lugar, sendo que os melhores documentos podem ser encontrados em bibliotecas e nas casas, além dos arquivos.
O trabalho com documentos também se faz relevante. Porém cabe voltar nossa atenção ao que nos aponta Priori (1994) que se pode conhecer a História através dos documentos, é neles que se consegue evidenciá-la, no entanto eles não são toda ela, não revelam tudo. Com isso vemos que a História é lacunar, Veyne, 1983, citado por Priori (1994, p. 186) tem razão ao falar que “não podemos fazer dizer à História mais do que dizem as fontes”. Os documentos se tornam valiosos a partir de uma observação detalhada, a qual autentique sua validade. Ele tem seu valor, segundo Chagas (2002) a partir do instante, em que é lançado um olhar interrogativo sobre ele, é também pelo documento que se pode aproximar dos conceitos de patrimônio e memória, que muito nos interessa nesse estudo.
Ao falarmos de História local, ou regional, na qual essa pesquisa se engloba, analisamos Pesavento, (1990), citado por Priori (1994, p. 182) nos dizendo que “[...] história regional, seria aquela que buscaria tratar a dinâmica da prática social dos homens, a partir da análise das condições históricas objetivas num espaço delimitado”. Esse mesmo autor nos aponta que para tratar desse assunto é fundamental delimitarmos a noção de tempo e espaço,
Já mencionamos o passado e seu sentido, muitas vezes indefinido e secreto, mas que não deve ser ignorado, pois como nos diz Bloch (s.d), essa ignorância além de prejudicar o conhecimento do presente, irá comprometer a ação histórica. E se não compreendemos o presente, é porque muitas vezes ignoramos o passado. A relação entre a História, às fontes históricas e as diferentes temporalidades, altera o resultado do sentido da História em si. Para isso torna-se necessário que o trabalho do historiador seja incessante e contínuo, buscando encontrar o maior número de fatos concretos que confirmem seus estudos, para que o conhecimento seja completo, deve-se passar do objeto observado ao fato que ele prova.
Muitas vezes podemos encontrar resquícios do passado não somente em fontes escritas ou concretas, uma forte aliada em nossa pesquisa é a fonte oral, a qual pode nos aproximar de fatos passados de forma mais dinâmica. Como nos lembra Thompson, citado por Garrido (1992, 1993) é esse tipo de fonte, a oral, que se torna à base mais antiga e ao mesmo tempo a mais recente forma de fazer História. Garrido (1992, 1993) nos apresenta Ronald Fraser em 1984, p.34 escrevendo que “[...] o testemunho oral não é uma fonte como outra (...) Com todas as possíveis distorções e erros, o testemunho oral é sempre uma maneira de dar significado ao passado para, ao mesmo tempo, dar sentido ao presente”. Na implantação de fontes orais, se faz necessário colocar em prática um método que permita obter o máximo de informações possível. O uso dessas fontes nos permite um aprofundamento, um contato com a História de grupos sociais, que foram esquecidos ou marginalizados. Percebemos na fala de Barceló, mencionado por Garrido (1992, 1993), que as fontes orais também possuem suas limitações, sendo que há coisas que nem fontes escritas e nem as orais podem nos revelar. No entanto quem das orais utilizar deve estar em condições de argumentar.

CULTURA MATERIAL NO MUNICÍPIO DE BITURUNA ANOS 1920 a 1954

Neste capítulo temos por pretensão analisar objetos que além da própria utilização dos mesmos no período da Colônia Santa Bárbara, entre os anos de 1920 a 1954, mostrando-os com determinadas funções no período mencionado, para as pessoas que viviam na Colônia. Buscaremos ainda apontar sua representatividade nos dias atuais em nosso cotidiano, dentro do contexto histórico e social da época atual.
Tem-se conhecimento através de documentos, como é o caso do “Álbum Photographico e Descriptivo da Colonia Santa Bárbara” produzido pelo padre Estanislau Schaett no ano de 1937, o qual mostra que com a chegada dos primeiros colonizadores italianos, oriundos de diversas regiões do Rio Grande do Sul, teve inicio também todo o processo de desenvolvimento do território colonizado. Tais imigrantes trouxeram em suas bagagens, ferramentas e acessórios indispensáveis à vida na colônia e além do mais, necessárias às atividades, com as quais pretendiam garantir um futuro econômico e próspero para a família e toda a comunidade. Não podemos esquecer, no entanto, que muitas dessas famílias colonizadoras em solo paranaense fabricavam de acordo com a exigência do trabalho e afazeres, os utensílios que hoje fazem parte de um acervo histórico ou de coleções particulares.
Vemos em Romano (1993, p.53) uma das definições de coleção:

uma coleção, isto é, qualquer conjunto de objectos naturais ou artificiais, mantidos temporária ou definitivamente fora do circuito das atividades econômicas, sujeitos a uma proteção especial num local fechado preparado para esse fim, e expostos ao olhar do público. (ROMANO, 1993, p. 53)


Nos prenderemos mais as coleções particulares sendo de nosso interesse apontar o que as famílias biturunenses detêm em seu poder e os torna um povo diferente de todos os outros, pois o modo que usavam e definiam esses objetos, hoje aponta um modo de vida que poucos vivenciaram além do sentido depositado nessas peças pelos seus donos, pretendemos definir o que os identifica dentre os demais. E mostrar ainda que o valor desses acessórios é extremamente relevante, pois além do prazer estético, como nos afirma ainda Romano, podem nos auxiliar em nossas pesquisas cientificas ou históricas,
Um objecto vê-se atribuir um valor quando é protegido, conservado ou reproduzido. (...) para que um valor possa ser atribuído a um objecto por um grupo ou por um indivíduo, é necessário e suficiente que esse objecto seja útil ou que seja carregado de significado (ROMANO, 1993, p.72)
Para muitos observadores, ou simplesmente curiosos tudo o que era utilizado na Colônia e muito do que ainda mantêm sua função ativa, foram confeccionados e trazidos prontos pelos italianos que ocuparam este espaço. Na verdade, pudemos observar que realmente, muitos objetos foram produzidos originalmente na Itália ou nas regiões rio grandenses, local onde se estabeleceram os imigrantes vindos diretamente de sua terra natal. No entanto, há uma grande leva de peças que foram adaptadas, ou melhor, dizendo, recriadas de acordo com uso que delas se extrairia.
Como já mencionado anteriormente diversas eram e são as finalidades de determinados objetos, Horta (2002, p.16) fala que assim como os monumentos, alguns continuam com a função original, outros já apresentam outras funções, portanto seria de extrema ignorância afirmar que todos mantêm a mesma função, pois sabe-se que com inovações, e o progresso da tecnologia, os materiais utilizados pelo homem foram aprimorando-se conforme o anseio de quem os utilizaria. Chagas apontado por Lemos (2000, p.27) nos fala que estes objetos, assim como os museais:

[...] são também inutensílios; são coisas, trens e trecos que perderam a serventia e a utilidade de origem e passaram a ter uma outra serventia, uma outra servidão até então não prevista (...) O inutensílio não está despido de significado, ao contrário, está aberto a diferentes significações. (CHAGAS, apud LEMOS, 2000, p. 27)


Portanto notamos que foi e ainda é grande a influência dos pertences dos colonizadores, onde aos olhos do povo biturunense, essencialmente os possuidores de tais objetos, tornaram-se muito mais do que simples ferramentas de trabalho sejam agrícolas ou domésticos, com o passar do tempo, a população passou a compreendê-los como itens relevantes a formação cultural e identitária do agora denominado município de Bituruna. Os objetos e utensílios que são retratados nesse texto ajudaram os imigrantes a superar as condições expostas pelo meio oportunizando formas de ultrapassar as dificuldades, e criando situações para construir uma nova vida. Ainda Chagas, mencionado por Lemos (2000, p.30) nos alerta que “sem sensações, sentimentos, pensamentos e intuições as coisas estão mortas”. As peças que fazem parte deste nosso estudo documentam, portanto a forma de viver das antigas famílias biturunenses.
É bom indicarmos que com a vinda desses imigrantes houve também uma miscigenação, nem todas as famílias que aqui se estabeleceram já estavam completamente formadas, muitos foram os casamentos ocorridos na Colônia, envolvendo os descendentes de italianos e os “brasileiros” termo que a população local utilizava para designar que não vinha de outro país, ou como diziam quem não era “branco”. Não como forma de preconceito ou descriminação, os próprios imigrantes identificavam a população como “negri” expressão que significa negro. Seria uma enorme falha afirmar que somente os imigrantes italianos ocuparam esse espaço, no entanto é certo dizer que foram os que mais se destacaram, e também vieram em maior número que as demais nacionalidades.
Na verdade os primeiros ocupantes foram os índios Ibiturunas, de onde se diz vir à origem do nome do município, poderíamos falar da influência dos poloneses, alemães, turcos, os próprios “brasileiros” e outros tantos, mas esse nosso estudo visa centralizar-se na ocupação italiana, e dos objetos e ferramentas usados por estes indivíduos, é evidente que os outros povos que para a Colônia Santa bárbara se mudaram, também desempenharam muitas de suas atividades, utilizando-se das ferramentas fornecidas pelos italianos, assim como estes, também fizeram uso de acessórios produzidos pelos outros moradores do lugar.
Outro fato relevante a ser mencionado, é que nesse estudo falamos de italianos e sua vinda ao sul do Paraná, no entanto não é de nosso interesse retratar aqui a questão relacionada à imigração dos mesmos e nem nos aprofundarmos nos motivos de tal movimento efetivado por eles, buscamos sim, nos apropriar do estudo dos utensílios que tais imigrantes possuíam após estabelecerem-se na colônia Santa Bárbara. Para tanto faremos a seguir uma apresentação de tais acessórios, indicando a quem pertencia e qual o uso desses no período de 1920 a 1945, período anterior à emancipação do município de Bituruna, e descobriremos ainda o porquê de muitos ainda manter esses objetos, qual o significado dessas peças para quem as possui é algo que procuraremos apontar nesse texto.
Assim dividiremos os textos que se seguem, analisaremos as peças de cada família, sem deixar de indicar que estas não eram as únicas possuidoras desses acessórios. Apontaremos as funções no tempo em que eram o único meio de se desempenhar uma atividade e também mostraremos qual sua utilidade no presente, após o surgimento de tantas inovações que fizeram com que muitos dos objetos fossem abandonados, mesmo que só para determinada função. Buscamos nos embasar em Villagrán (2000) para especificar nossa pesquisa, apontando assim como nos indica a autora em relação aos objetos, onde e quando foram fabricados, para que era utilizada, qual a energia era utilizada em sua fabricação e para sua função, para quem se destinava homens, mulheres... E quais mantêm a mesma função de quando foram confeccionados.

EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: MEMÓRIA E CIDADANIA

Queremos aqui demonstrar como a questão da Educação patrimonial se insere no contexto definido por esse estudo relativo aos objetos antigos utilizados entre os anos de 1920 a 1954 e sua representatividade atual, sabe-se que essa análise só pode ser realizada através da educação patrimonial, onde esses utensílios são reservados como itens de memória, e ainda, para muitos são considerados como um patrimônio, alguns os consideram como algo relativo somente a família que os pertence, já muitos os determinam como elementos capazes de definir e impor uma identidade a toda a sociedade em que eles se encontram. Pretendemos então nesse capítulo, conceituar o que vem a ser Educação Patrimonial, além de expor sua importância e relação com o ensino de História.
Segundo Chaves (2004, p. 07):

O passado está presente em todo lugar, a memória de cada indivíduo na sociedade é constituída de acontecimentos que marcaram tempos passados é através de fatos que uma civilização constrói sua identidade. (CHAVES, 2004, p.07)


Buscamos, portanto fazer com que a Educação patrimonial e o ensino de História nos auxiliem na procura desse passado, o qual pode fazer parte da memória de um povo, fazendo com que ele se identifique culturalmente. Ainda essa autora nos aponta que a memória é própria de cada pessoa e também é construída por ela, assim como a identidade, a memória é um elemento construído socialmente. A partir de então, olhamos para o passado, analisando-o criticamente, pois este é formador do imaginário. É com a preservação histórica que será permanente os valores presentes na memória das pessoas.
Porém, Meneses (1992, p. 12) nos alerta que:

[...] a memória não dá conta do passado, nas suas múltiplas dimensões e desdobramentos. E não só, é claro, porque sabemos muito mais do que as memórias vivenciadas no passado poderiam saber, mas, sobretudo porque o conhecimento e distanciamento. Somente a História e a consciência histórica podem introduzir a necessária descontinuidade entre passado e presente: História, com efeito, é a ciência da diferença. (MENESES, 1992, p.12)


Devido a isso é que mostramos a relevância do ensino de História. Afinal, a memória nos aproxima de fatos passados, mas não os traz de volta. O estudo histórico nos auxilia a compreender melhor os fatos e ações do homem em outros tempos, que podem refletir em nosso presente. Ainda Meneses (1992, p.14) diz que : “A memória é filha do presente. Mas, como seu objeto é a mudança, se lhe faltar o referencial do passado, o presente permanece incompreensível e o futuro escapa a qualquer projeto”.
Bittencourt (2003, p.130) considera a escola como o local adequado para a formação da cidadania e para o conhecimento e valorização de elementos que fazem parte do patrimônio cultural. Regina Leite Garcia, citado por essa autora aponta que:

O papel da escola, é também, ensinar a degustar as formas e os conteúdos que hoje podem parecer superados, mas que fazem parte das nossas raízes, ou pertencem ao patrimônio cultural da humanidade. (GARCIA, apud BITTENCOURT, 2003, p. 130).

O autor nos indica que já existem historiadores e profissionais preocupados com a elaboração de programas de educação patrimonial. Sendo que esta nada mais é que a educação voltada ao estudo de elementos do patrimônio cultural, é com o processo de construção de identidade cultural, que a conservação do patrimônio histórico ganhará força e clareza. Fala ainda, citando Andrade (1992, p. 23) que é desde cedo que se deve ensinar na escola a educação patrimonial.
O ensino primário é imprescindível (...) Não basta ensinar o analfabeto a ler. É preciso dar-lhe contemporaneamente o elemento em que possa exercer a faculdade que adquiriu. Defender o nosso patrimônio histórico e artístico é alfabetização. (ANDRADE 1992, apud BITTENCOURT, 2003, p. 141)
No entanto, como diz Oliveira (1998, p. 91) é preciso “trabalhar o ensino de História, de forma construtivista, em que o aluno e professor estabeleçam um diálogo entre si e com as fontes de pesquisa, em que a História passe a ter importância na vida de ambos”. Um dos desafios do ensino de História, como essa autora nos indica é fazer uma ligação entre diferentes temporalidades, buscando a nossa identidade. O aluno deve atuar como um investigador da pesquisa que o historiador faz, assim, ele percebe que pode dialogar com as fontes históricas, através disso poderá levantar suas hipóteses.
Horta (1999, p.06) define a Educação patrimonial sendo “um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural como fonte primária de conhecimento e enriquecimento individual e coletivo”. Para ela, é através do contato direto e experiências com as manifestações de cultura, que se realiza um trabalho patrimonial capaz de iniciar um processo de conhecimento da herança cultural, fazendo com que esses indivíduos valorizem o que lhes representa. Mostra-nos ainda que “A Educação Patrimonial é um instrumento de alfabetização cultural que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia (...)”. Quando as comunidades conhecem seu patrimônio, fortalece-se os sentimentos de cidadania e identidade. Qualquer evidência material, que se manifeste culturalmente pode-se aplicar a metodologia da educação patrimonial, sendo algo que resulte nas relações entre as pessoas e o meio. Essa mesma autora (2000) define a relevância em se trabalhar a educação patrimonial e a intencionalidade ao ensiná-la, apontando que:

Trabalhar educacionalmente com o patrimônio cultural não pode ser apenas uma tarefa de passagem de informações e discursos pré-fabricados... mas levar o aluno ou o aprendiz, no processo de conhecimento, a identificar os “signos” e os significados atribuídos às coisas por uma determinada cultura, a mergulhar no universo de sentidos e correlações que elas oferecem à descoberta, a procurar entender a “linguagem cultural” específica utilizada naquelas manifestações e, finalmente, a envolver-se afetivamente com elas, através de vivências e experimentações, de modo a ser capaz de apropriar-se desses “signos” e “textos” culturais, incorporando-os ao sistema de sua “enciclopédia” mental. (HORTA, 2000, p. 30)
A educação patrimonial está fortemente entrelaçada ao ensino de História, pois ambas referem-se a fatos de nosso passado e de nossa atualidade. Vemos em Garbinatto (2000, p. 39) que muito do que acontece em nosso cotidiano, está ligado a História em diversos aspectos. O que vivenciamos tem raízes históricas, para compreender isso, torna-se necessária uma investigação intensa acerca do assunto. Cordeiro (2000) nos aponta que é necessária uma rediscussão da História, descobrindo assim seus múltiplos significados. Pois para ele é importante destacar o papel estratégico da História como disciplina escolar. Ainda este autor destaca que:



[...] o ensino de História, apresenta-se como lugar de intersecção de campos distintos: o da produção do conhecimento histórico propriamente dito, fornecedor dos conteúdos e dos fundamentos teóricos do que deve ser ensinado; o da pedagogia, formulador dos métodos e dos estudos sobre as etapas do desenvolvimento psicológico da aprendizagem, sobre a motivação etc; e, finalmente, o da política, na medida em que o ensino de História são formulados e / ou transmitidos certos padrões ideológicos que servirão como ponto de referência para a construção da identidade social. (CORDEIRO, 2000, P.29)

Também é preciso um esforço para manter viva e ativa a memória, a qual nos aproxima de fatos passados, os quais não poderemos mais vivenciar inteiramente. No entanto, como nos mostra Chagas (2002, p. 18) “[...] preservar testemunhos materiais não é sinônimo de preservar memória. A memória não está aprisionada nas coisas (...) ela se situa na relação entre o sujeito e o objeto de memorização”. Está ai nosso interesse, mostrar como a relação dos objetos com seus possuidores podem defini-los culturalmente, além de tentar buscar na educação patrimonial uma aliada à preservação tanto dos objetos quanto das significações que estes possuem.
Segundo Horta (1999, p.12) por mais comum que seja um objeto, ele pode oferecer muitas informações de seu contexto histórico-temporal, da sociedade em que se inseriu, a qual o usou e modificou. E a educação patrimonial pode auxiliar na compreensão dessa abordagem, como também no desenvolvimento cognitivo do aluno:

O trabalho da Educação Patrimonial pode assim ser visto, ainda, como fator de desenvolvimento intelectual e psicológico, afetivo e cognitivo, ativando os processos mentais superiores e enriquecendo a memória individual e seus mecanismos de registro e recuperação (HORTA, 2000, p.30)

Sendo assim, a grande função da educação patrimonial é o da descoberta de técnicas e meios para a preservação da memória, ela é uma proposta metodológica e uma forma de ação social, procurando ativar a memória através de bens culturais.

PROPOSTAS PARA UMA AÇÃO PATRIMONIAL EM BITURUNA

Preocupamo-nos com a educação patrimonial porque é de nosso interesse propor a comunidade biturunense uma forma de conservar os bens culturais que a sociedade possui, fazendo com que estes posteriormente, passem a ser um item de identificação aos moradores do município. Além de que possam auxiliar no ensino da História, seja ela local ou global.
Um centro histórico, assim como nos diz Horta (1999, p. 26) pode ser um excelente estimulante a professores e alunos à estabelecer e compreender as relações temporais. Para toda a comunidade também seria interessante pois poderia perceber as mudanças que ocorreram nos modos de vida das pessoas. No entanto, como nos aponta ainda essa autora (1999, p. 56) “a pesquisa histórica e o estudo dos objetos, monumentos e sítios patrimoniais podem ser enriquecidos por outras fontes de informação e orientação”. No caso de Bituruna, seria uma idéia a construção de uma “casa de memória”, onde seriam expostos objetos e utensílios usados pelas famílias dos colonizadores que ali se estabeleceram. A residência do senhor Dothilo Sandi é um local encantador, cheio de histórias da História. No entanto, seria mais adequado um local onde fossem reunidos acessórios de várias famílias, e ali uma pessoa preparada pudesse receber visitantes e contar a estes sobre as peças e a interferência que elas causaram a vida de seus possuidores. Algumas exposições de objetos antigos já foram realizadas, apontando o significado passado destes e a representatividade cultural que eles possuem atualmente.
Segundo Fonseca, citado por Santos (2001, p.44) “Passa-se a valorizar não somente os vestígios de um passado distante, mas também a contemporaneidade, os processos, a produção”. O patrimônio cultural passa então a impôr-se no processo de modificações das cidades e de afirmação de identidades de grupos e comunidades. De nada adianta negar a História e a memória, pois se perderá muito, também não adianta negar a importância dos bens culturais pois como demonstra Santos com a contribuição de Ficino e Bosi, no texto abaixo:

Se é verdade que a cidade não é feita de pedras, mas sim de homens (Marcilio Ficino apud Argan, 1992: 223), também é verdade que as lembranças se apóiam nas pedras da cidade (Bosi, 1979), e não é por outra razão que os homens, ao longo dos séculos, têm lhes atribuído valor e trabalhado para que permaneçam (ou desapareçam) enquanto expressões da memória coletiva, de uma identidade compartilhada. (SANTOS, 2001, p 45)
Para tanto, como nos diz Manique e Proença (1994, p. 54)

Defender o patrimônio, em termos de futuro, passa, antes de mais, pela educação, pela sensibilização das jovens gerações para a preservação dos bens patrimoniais que constituem suportes de memória colectiva nacional e do seu quadro de referências e valores. (MANIQUE E PROENÇA, 1994, p. 54)


Para isso é necessário conhecer seu percurso histórico, onde ganha e perde significado. O estudo do patrimônio de uma localidade exigirá esforços tanto dos professores e alunos, como de toda a comunidade. Horta (1999, p. 66) nos lembra que é para fazermos uso do patrimônio, explorando e utilizando os bens culturais e históricos, como fontes de conhecimento e compreensão de diferentes tempos, construindo assim um futuro consciente, o qual se sustenta em nossas raízes.
Cabe ressaltar como nos mostra o mesmo autor, que o relevante é perceber que um objeto só se torna um bem cultural se alguém o muda de sua função para uma nova condição, ou seja, lhe atribui valores e significados, e acredito que nós professores temos condições de dividir essas preocupações com a comunidade, envolvendo crianças, jovens e adultos com olhares voltados a preservação do patrimônio local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao término dessa monografia, ressaltamos a importância de alguns elementos como a memória e a educação patrimonial aliada ao ensino de História, para a reconstrução histórico-cultural de uma sociedade, onde a memória preservada pode remontar fatos passados e reaproxima-los do presente, para o entendimento de algumas ações humanas.
Buscamos, no estudo da cultura material, análise de objetos e utensílios antigos presentes no município de Bituruna, enfatizar como a mudança de vida das pessoas, assim como transformar o significado das peças que esses indivíduos usavam em outros tempos para o trabalho, e, que agora possuem como um elemento de sua identidade cultural. Constatamos que muito do progresso ocorrido desde os tempos da Colônia Santa Bárbara, a emancipação e os dias atuais do município biturunense, deve-se a utilização de ferramentas que garantiram a sobrevivência das famílias de colonizadores que em terras paranaenses se estabeleceram.
Portanto, o grande incentivo a valorização e preservação desses itens que são para muitos um patrimônio cultural que identifica seus possuidores, se faz intensa. É um processo que depende do apoio de muitas pessoas e instituições interessadas na preservação da história e memória local, onde nos reaproximamos de nossas raízes. É também com o auxílio do ensino de história, voltado a educação patrimonial que esse desejo ganhará mais força e nitidez.
Ressaltamos a partir das considerações acima, que a finalidade desse estudo é não deixar desaparecer na comunidade biturunense os valores que revelam a trajetória de seus habitantes, valores esses, semeadores de memória e identidade cultural, e que são acima de tudo, o elemento capaz de não deixar que se perca a história de um povo.


REFERÊNCIAS

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A MASSIFICAÇÃO DA TELEVISÃO

Segundo Napolitano, 2004, foi em 1968 que ocorreu a massificação da televisão, diminuindo a importância do radio, visto até então como o principal meio de comunicação de massa nas grandes cidades.
Com a crise e fim do programa Jovem Guarda, com a saída de Roberto Carlos também teve fim o movimento. A juventude brasileira havia mudado, ter brotos, a rebeldia e a ingenuidade adocicada davam IBOPE, eles queriam ir além de discutir sexualidade, revolução e comportamento. Nunca os estudantes foram tão valorizados e passaram a ser os heróis da sociedade brasileira, na luta pela democracia.
As emissoras passaram a organizar suas programações de acordo com uma grade rigorosa de horário, para vender seu principal produto, o tempo. Perceberam que o tempo vazio era o mais importante, o custo dos comerciais cobrados dos anunciantes era mais lucrativo do que vender os programas inteiros. “[...] mais lucrativo do que vender um programa inteiro, como nos tempos do radio (como o próprio Festival da Record que era “vendido” para a marca de sabão Super Viva) era vender os minutos dos intervalos de um programa para vários anunciantes.” Isso nos indica mo mesmo autor, p. 75. Essa lógica se impôs a partir de 1960, onde a emissora Globo destacou-se nesse processo, garantindo sua hegemonia na década de 1970.
Em 1968 a 1ª telenovela foi considerada moderna na televisão brasileira.

Ao contrário dos grandes dramalhões passionais, ambientados em cenários exóticos ou distantes, com falas e gestos teatrais, maquiagem pesada e gravado em estúdios artificiais, a novela Beto Rockfeller (TV Tupi) introduziu um outro tipo de teledramaturgia. A historia tinha um viés mais sociológico, mostrando um homem pobre que queria subir na vida a qualquer custo, vivendo de pequenos golpes. Os diálogos eram mais coloquiais e bem humorados e o ambiente era natural e cotidiano. A novela foi um grande sucesso e demonstrou que era possível levar ao ar personagens tipicamente brasileiros, urbanos e sintonizados com os problemas e as características sociais do seu tempo. (NAPOLITANO, 2004, p. 75)

A tv Globo foi renovadora do gênero.
Mas também havia loucuras, como em 1968 o Programa dos Tropicalistas tentando revolucionar a cultura de massa a partir de seu interior. Eram artistas plantando bananeira, de pernas para o ar, ou dentro de jaulas, ou ainda uns revolver engatilhado para cabeça.
Foi em 13 de dezembro de 1968 que o ministro da justiça Gama e Silva anunciou que a partir daquele momento o governo militar assumiria o controle da sociedade brasileira. Naquele dia todos os telespectadores ficaram perplexos.
A cultura nos anos seguintes sofreu repressão e criticas, mas também houve o crescimento do mercado cultural marcado pela difusão de produtos de entretenimento fácil, principalmente na música e na televisão.